Os pais Natais dos centros comerciais deviam ser submetidos a testes psicotécnicos, tal é a importância das funções que desempenham, não estivessem em causa crianças, ainda mais cheias de expectativas nesta altura do ano.
É que confrontámos-nos com o Pai Natal do Corte Inglês, dentro da sua casinha, rodeado de adultos preocupados sabe-se lá com o quê, todos eles ignorando que o mero facto de estar ali um Pai Natal era motivo suficiente para despertar a atenção das crianças transeuntes.
Ora, meu mai grande reparou no aparato e na grande personagem (muito embora rodeado de adultos) e logo exclamou "quero dar um abracinho ao Pai Natal!". Bom, restou-me colocá-lo à porta da casinha (ficando atrás dele) na expectativa que alguém reparasse que ali estava uma criança, à espera de um minuto de atenção do dito cujo.
Assim, ao fim de dois minutos de sentinela, parado a olhar e sem ser notado, lá fui forçada a falar alto para que a minha criança fosse notada. E finalmente o grupo de adultos toma consciência e dispersa, deixando o Pai Natal desempenhar as suas funções. E é neste contexto de desatenção, que este episódio continua na mesma linha de frustração com este personagem, cuja intervenção começa desta forma, dirigindo-se ao meu filhote:
- "Atão?" ... o meu filhote claro, nada responde e aproxima-se do Pai Natal.
Este último continua, dirigindo-se a mim (incapacitado de perceber que uma criança de 3 anos e meio sabe dizer o seu próprio nome): "A criança como é que se chama?".
Perante tal incapacidade de perceber que estava ali uma criança entregue à expectativa de interacção, eu tento salvar as expectativas no meu rebento e digo-lhe:
"Vá Duarte, um abraço ao Pai Natal", que ele prontamente dá.
Julgo que surpreendido com o afecto, o personagem fica sem reacção e começa a oferecer-lhe chocolates. Nesta situação (e saturada do assédio doce que as crianças têm) disse ao meu filhote:
"Vá Duarte diz ao pai Natal que te vais portar bem para receberes presentes" o que ele faz prontamente. O personagem que, para além de ser inapto, também parece ser surdo, responde-lhe "queres mais chocolates?". Tentando salvá-lo definitivamente da situação, agarro-o pelo braço e afasto-o, despendindo-me do personagem e repetindo a dita frase.
Estas situações são avassaladores, ainda mais tendo em consideração que essas instituições "os shoppings" deviam ter uma responsabilidade acrescida já que os respectivos lucros resultam, em grande parte, do espírito consumista que é incutido nas crianças e de que eles, acima de tudo usufruem.