segunda-feira, 2 de abril de 2012

Bela

I

Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração, sequer!

Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta: sê em Vénus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão-de pisar-te!

Se à vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;

E gritam então vis: "Olhem, vejam
É aquela a infame!" e apedrejam

II

Ó Mulher! Como é fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

a pobrezita, a triste, a desgraçada!


Quantas morrem saudosas duma image
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

Florbela Espanca: A Mulher.
Ficheiro:Florbela por Apeles Espanca.jpg
Florbela por Apeles Espanca
Disse que ía ver este filme e assim foi. O hubby não gostou, achou mais um filme de rapidez Portuguesa; eu gostei e até achei que essa lentidão era necessária para transmitir a profundidade da personagem. Gostei da Florbela, do retrato da sociedade portuguesa nos anos 20,  da complexidade da Florbela, que na verdade tem um bocadinho de todas as mulheres ... os cenários estão geniais e a fotografia idem. Sou curiosa, por isso gosto de ver como eram as pessoas noutras circunstâncias, mudam os tempos mas permanece a essência.

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